sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Criadores dos heróis Marvel

Jack Kirby e Steve Ditko merecem ser reverenciados sim como co-criadores dos heróis Marvel. Tudo bem. Mas a verdade é que o sucesso da Marvel se deve ao trabalho incansável do Stan Lee. Jack Kirby já fazia quadrinhos com o Joe Simon a décadas. Sempre mais do mesmo. A visão de Stan Lee é que deu margem para a transformação que resultou no mercado de quadrinhos como ele é hoje. No entanto, existe uma onda de desvalorização da figura do Stan Lee em nome de uma pretensa justiça histórica qualquer.

Algumas doces verdades que depreciadores de Stan Lee sempre terão que engolir amargamente são: o Spider-Man foi ainda mais apreciado no traço de John Romita do que no de Steve Ditko. Isso derruba a tese de que Stan Lee parasitava os dois desenhistas, uma vez que o personagem só fez crescer em aceitação; tanto Steve Ditko quanto Jack Kirby não quiseram permanecer na Marvel porquê queriam mais liberdade criativa, ou seja, o Stan Lee é quem dava a palavra final nos roteiros e direção dos personagens; ambos os desenhistas jamais conseguiram reproduzir em seus trabalhos autorais posteriores o mesmo grau de qualidade e carisma da época em que ilustravam roteiros do Stan Lee, ou seja, Stan Lee é quem escrevia bem e não os dois desenhistas; Stan Lee percorreu os EUA palestrando em universidades sobre os quadrinhos, contribuindo para destruir o mito de que gibi é coisa de criança idiota e ganhou um mercado mais adulto. Além disso, levou os personagens a outros mercados, como games, a TV, e ao cinema, enquanto os dois desenhistas continuaram em seus bunkers ilustrando para outros "patrões malvados", sem progredir para além do ponto em que se encontravam antes.

O bom desenhista de quadrinhos não se faz sem boas histórias. Sou desenhista, escrevo histórias e sei reconhecer o mérito de um bom roteiro. Lamento pela incapacidade alheia quando o reconhecimento ao mérito de um outro autor é negado. Considero até antiético quando quem comete essa gafe é algum profissional que deve, mesmo que em parte, a própria profissão ao depreciado. É possível admirar o trabalho do Jack Kirby, ou do Steve Ditko, sem depreciar o mérito assombroso da mente criativa e comunicativa de um Stan Lee.

E para terminar, se Stan Lee foi um sensacionalista em seu tempo, ele o fez para fazer progredir sua parcela de mercado, e valorizar o trabalho em que estava envolvido. Dessa semente se colhem frutos até hoje, mais de meio século depois. Muito diferente do sensacionalismo de autores, jornalistas, blogueiros e os chamados haters, que quando ávidos por um escândalo depreciativo trazem de volta seu velho balde de lama suja para atirar na reputação dos outros, e assim esmolar alguma audiência e atenção dos fãs de realizações que, em grande parte, derivam, direta ou indiretamente, do trabalho do Stan Lee, do Jack Kirby, ou do Steve Ditko.

Não me cabe policiar ou reprimir o que eu considero um erro de quem faz. Quem faz, faz por seu próprio mérito. Realmente não acredito que diminuir terceiros me faça crescer. Mantenho Stan Lee, Jack Kirby, e Steve Ditko em suas posições de destaque, sem precisar rotular-lhes de "safado", "plagiador", e coisa que o valha. Apenas me entristece, como fã, a tendência ao linchamento barato de uma figura que merece todo o reconhecimento de qualquer parcela do mercado. Se não formos minimamente capazes de saber reconhecer o mérito dos outros, como pleitear o reconhecimento de nosso mérito próprio?


Excelsior

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